terça-feira, 24 de março de 2009

Quarto 186

Era da sujeira da cama que eles riam, ao olhar o relógio que gritava tic-tac, tic, tac, tic-tac...ininterruptas vezes um barulho ensurdecedor. Jogaram as chaves em cima do criado-mudo, despiram-se da poeira grudada na roupa, abriram os vidros. "Que bom!" -pensaram os dois sorrindo desconfortávelmente. Havia meias penduradas do lado de fora sem um legítimo dono. Existia farelo de pão na pia. Tudo muito natural até então. Mesmo os passos molhados de um sorrateiro banho não encomodavam a ponto ser problema. Cravaram cada um seu palito na azeitona e serviram-se vodca. Era frio, mas nem por isso triste. Cheiravam um o hálito do outro em momentos diversos e o vinil que se manifestava era Blues. Nada de tão especial, mas belo. Era tanta virgindade dos panos-de-prato que sentiam-se previlegiados pela preocupação. Como uma pequena farsa escondida no meio do ovo, eram pêlos no sofá, apenas pêlos... nada pra estragar o momento, ou pedir comida pra viagem...eram pêlos de algo, ou alguém...pêlos loiros. Eles eram loiros, o que incentivou uma procura desesperada por todos os cantos por aqueles pêlos loiros e longos, definitivamente loiros. Agora era água que eles bebiam, fingindo um pro outro não ter visto os tais pêlos loiros e longos no braço do sofá. Cada um no seu silêncio cômodo e feliz. Na sua situação bem interpretada. Era momento de interar-se à fantasia, permitir que ela progrida... Apenas fechar os olhos.... e tudo bem. Agora esta permitido. O lençol tinha cheiro de Confort.