terça-feira, 2 de novembro de 2010

Contagem regressiva

Se a loucura me invadir.
Eu já aviso antes.
Estou avisando.
O controle saiu do controle.
Ainda resta a consciência.
Não, eu não respondo mais.
Não mais por essa.
Eu e mim.
As dores.
No pensamento que sangra.
Droga de lembrança.
Droga de memória.
Uma louca não pede perdão.
Assume a culpa.
Sozinha.
Não me abrace forte.
Não me diga que vai passar.
Eu não preciso mais do que antes de amarras.
- Mas você me parecia tão bem?!
- Alguém precisava estar bem, baby!
Bomba-relógio.
Cabeça se esmagando em soluções.
Os comentários.
Ninguém achará o responsável.
E lendas.
E histórias.
Contadas porcamente.
Executadas sem ter o que temer.
Outros erros.
Outros erros. Exageros da idade.
Vá dormir!
Diz o que sobra.
Assim é que acaba.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

De Lufre para Chico


Eu confesso não me acostumei.
Difícil te olhar nos olhos, mas mais difícil é não te saber tão meu.
Sabes o que eu faria contigo agora?
Arrombaria tua carne de uma vez só e sangraria tua pele com meus dentes pra provar que era teu o meu amor gemido.
Sem nenhum pensamento anterior eu esmagaria teu pescoço prendendo entre meus dedos teu pombo de Adão, e te machucaria tanto até te ver me pedir misericórdia. Mas você não pediria, não é mesmo?
Assim eu conseguiria te fazer cair. Cair de joelhos aos meus pés, desesperado pelo ar que te roubei.
Lágrimas jorrariam dos teus olhos, mas palavra nenhuma você desperdiçaria comigo.
Chego a enxergar tua mão enorme vindo na direção do meu rosto. É possível que eu aceite o tapa e me delicie dele ao lembrar teus dedos que se entrelaçavam em meus cabelos quando respiravas fundo em minha nuca. Se me restasse forças, eu estupraria teu corpo com tanta força que te deixaria marcas irreparáveis. Cravaria minhas unhas em teus pelos e imploraria por teu sexo que me falta.
E tu, homem, fraco e vulnerável cairia sobre mim como um bicho e invadiria meu ventre-coxas-coração. Me banharia no teu suor, me pediria mais, e sem hesitar se faria feliz em segundos.
Vejo teus olhos observando minha pele que se arrepia e vejo teu corpo completamente imerso no meu. Eu afundaria meus olhos em teu peito, choraria em mil compassos, imploraria tua presença em meu corpo. Voltaria a te matar. Voltaria a te odiar e a pedir perdão. Gritaria com teus textos e subtextos. Despiria-me em frente ao teu rosto, me jogaria aos teus pés, juraria amor eterno. Esperaria uma oportunidade poética e insatisfeita e voltaria ao teu pescoço. E voltaria a matar você!

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Telegrama

 Os pés estão sendo lembrados. Garanto.

 Estão tocados, apertados, ainda assustados...
 Melancólicos e rejeitam as minhas mãos vez ou outra, 
 mas vamos indo.
 Aqui choveu. Muito. Ainda chove. 
 Dia cheio de coisas, e olhos, e corpos e sensações, 
 e cheiros, e opiniões 
 (meu Deus! Como as pessoas tem opiniões!), e palavras 
 e... tu? Onde estás? 
 Dia inteiro procurando teus rastros por aqui. 
 Ou eles me encontrando, sem querer... 
 E daí, o olho pára, e o olhar vaga, e o rosto relaxa, 
 e levemente as vezes se sorrri, ou suspira forte com pausas 
 e involuntário o corpo se revolta e explode desentendido. 
 Sinto falta.
 Sorrindo sempre. Brilho no olho, as panelas pela casa, 
 as roupas pelo chão,
 móveis revirados, sorrindo sempre. To bagunçada. Sacudida..

 e o corpo e a mente e cada célula do pé bagunçados. 
 Tudo bem, tudo bem. 
 Tudo bem? Tudo bem!

 Amor,
 Joe

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Joana - Bilhete


eu lembro que você falou que tinha prazer de ser tocada na costela, de ladinho.
costelas...
 Aí eu lembro de uma fresta de pele entre a calça e a blusa e eu lembro de pensar
que você tinha razão de gostar...
porque era mesmo um milagre.

O corpo leve
 só.
Vontade de ficar um dia inteiro em silêncio com você
e outros dias barulhentos.

Joana.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

ELES

Sely,


Joana,


Joe,


Chico e

Lufre.

Carta de Sely - desaparecida


E eu só tinha vontade de chorar.
Desesperadamente... Milhões de lágrimas penduradas no pijama de anteontem, no café repassado, e todo o vinil empoeirado pulando da estante pra compartilhar de todo aquele sofrimento Ofélico e premeditado. Tem convite para todos. Todos os boêmios que aparecessem por acaso pra me lembrar você seriam bem vindos e bem recompensados por suas canções espalhadas pelo corpo-cotovelo.
Tudo ainda sendo muito bem sentido... E célula por célula reconhecendo o teu corpo que se afasta e some na minha memória. Meu corpo sentindo-se doente e abandonado ainda tenta se mover.
Secretamente estou a sofrer.
Dói o peito e abafa a alma que retalhada sangra em cada respiração.Me sinto estranha.To assustada. Me baguncei, perdi o tom.

"Ela veio me buscar pelos pés. Bruxa desgraçada de tanta graça...
Multidões debruçadas em meus ombros e o corpo todo pedindo pra que você venha me salvar.
Mas você não vem, não é mesmo?
Você não vai aparecer por aqui com uma espada em punho pra me buscar, vai?
Tudo bem. Tu me amas, eu te amo. Nós nos amamos e Adeus.
...Dançaremos num futuro e riremos das nossas cartas já velhas e debruçadas em uma taberna, lá por 1922 nos encontraremos e pediremos da mesma bebida. Você lembrará da abertura dos meus dentes e eu tentarei enxergar entre a fumaça dos cigarros do pessoal, o desenho perfeito da tua boca. E quando percebermos que estamos sozinhos juraremos amor um  ao outro, trocaremos um anel ou um beijo, ou quem sabe uma noite. Nos despediremos em prantos ou não e esperaremos pela simpatia do futuro...


Eu entendo. Você acha que não temos tempo.
É uma pena...
 Você tem razão.
Não temos  mesmo.

Depois disso eu respondi. Mas ela não respondeu nunca mais. Se alguém souber de SELY, por favor entre em contato.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

QUIETUDE


Nunca mais

Ela vinha pra mim como um apelo, mãos abertas, olhos quase secos, respiração ofegante e saliva molhada nos lábios. Ela não dizia nada, nem perguntava. Apenas dançava heroicamente no meio do salão vazio. Olhava para as paredes manchadas de vinho e cinzas de cigarro, fingindo cumprimentar pessoas, com gestos pequenos da própria cabeça. Eu esperava minha vodca evaporar para partir, afinal, as únicas coisas que ali estavam era serpentina pisoteada e copos de plástico inundando o suor do chão. Mas havia alguma coisa ali, naquele circulo de voltas que ela dava, com a música já baixinha dizendo: - Tá na hora pessoal, a festa já virou quarta feira de cinzas! Ela sorria e ao mesmo tempo balbuciava algo da música que não lembro agora. De beleza ela não era completa, era magra e sem gracinha como muitos dizem, o cabelo aquelas horas não dava pra julgar, pois, qualquer que tenha sido o seu penteado já havia sido tomado pela reveria de coisas que as pessoas costumam jogar do salão de cima. Apenas para sacanear quem no de baixo esta. Aí está a nossa política: enquanto os de cima jogam trapos, os de baixo servem-se deles como flores em suas cabeças. Mas voltando a bailarina feinha, ela não parecia se importar com sua aparência, ali estava apenas eu, alguns garçons de cara amarrada e ela com seus tantos pensamentos e alegrias que tentava informar às cadeiras debruçadas sobre as mesas. Depois de um certo tempo admirando a falta de beleza e a dúvida sem explicação da moça, resolvi olhar o relógio, já se passava muito da hora de dormir, e lembrando que já não seria feriado neste outro dia presente, preocupei-me com o meu dia de amanhã e nisso, preocupei-me com dia de amanhã dela. Pus-me a pensar, será que ela trabalha? Estuda, quem sabe? Filhos? Marido? Não, marido não. Nenhum marido a deixaria dançar até aquela hora sozinha e desvairada no meio do salão. Não que ela parecera ser vulgar ou que tentasse algum tipo de sedução, como eu já havia dito, não há nada de muito interessante que desperte algum desejo. Eu continuava, numa fuga de perguntas para não sair de lá. Eu não tinha sono e talvez tenha sido por isso que me encorajei a ficar tanto, sentado a olhar o que me confundia. Pensei em chamá-la para conversar, falar com alguém, afinal entre mortos e feridos sobraram apenas ela e eu. Mas, poucos dias atrás uma amiga próxima me disse que tenho cara de tarado e que sempre que chego para conversar com uma moça, parece que quero comê-la. Tive medo de afugentar a moça e continuei lá sentado, com as nádegas dormentes e as costas doloridas. Me revirei na cadeira, e resolvi pedir mais uma dose de vodca, mas o bar já havia fechado e os garçons deram indiretas para que eu me retirasse. Então disse que iria acabar meu copo e seguir meu rumo. Agora estava eu, ela, os chatos e a vodca tomando conta do meu tempo de festa como uma mãe. Ali estava eu: filho de uma vodca. Ficava fingindo beber, molhava os lábios e gastava minha saliva neles. E ela? Não bebe? Como pode dançar tanto sem parar e não tomar nem água? Quando menos esperei, a música parou. Todos ficamos apreensivos: eu, garçons, as cadeiras, todos, naquele momento me senti como num jogo do Brasil esperando a cobrança do pênalti. Ali estavam todos a espera de qual seria a reação da menina bailante. Naquele momento todos éramos cúmplice de algum tipo de crime e nesse minuto viramos amigos sem saber. Quase que entranhados com suas mandingas na mão e esperando o momento de gritar gol,e nos abraçarmos felizes. Foi então que ela parou. Se dirigiu até uma cadeira, pegou um casaco, a bolsa e se foi. Sem dizer nada, nem bom dia ou boa noite, nem obrigada nada. Um silêncio tomou conta do salão e eu desesperado queria sair dali e correr atrás daquelazinha. Mas dizer o que? Porque parou de dançar? Porque dançou? Quem é você? O que? E não conseguia parar de pensar que tenho cara de tardo. E também, como já mencionei antes ela não tinha nada que me chamasse atenção. Ela apenas estava dançando em círculos, com seus cabelos repletos de flores, sorrindo para o nada, fingindo brincar com as paredes, dançava lindamente como um corpo nu no espaço. Era tão leve que parecia um anjo voando entre as mesas. Magrinha daquele jeito dava vontade de proteger. Era linda aquela dança e tão linda era ela que descobri que havia me apaixonado. Doidamente estava eu olhando as ruas e pensando:- onde está a minha doce bailarina? Nunca mais a vi.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Voltando?

Queres saber de mim? Me encontre com os mais sábios, os mais velhos.. Encontre-me onde eu tento me encontrar. Sirva-se deles como estou a me servir. Quietude. Vida longa aos donos das palavras certas! EVOÉ!

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Carlitos.

Perdi um pedaço esses dias, um pedaço já velho e dorminhoco...mas tão leve e doce que somente a possibilidade de perdê-lo já me desesperava. Foi assim, dormindo como um anjo que era. Sem perceber, nem nada... simplesmente se foi. Eu pedi que me avisassem com uma certa antecedência quando fosse acontecer, mas ninguém avisa, de repente te rrancam às lágrimas sem força e o maior pedaço do coração com tanta facilidade, que quando dei por mim tava assim: sem ele. Eu já havia me acostumado com àquela figura sentada, a forma pequena de pegar no sono, o braço firme que já não tão firme assim, o bigode grisalho, as entradas da careca, a expressão do rosto quando lhe interessava algo, a surdez facultativa, o cigarro entre os dedos, a voz... Que saudade eu tenho de ouvir àquela voz... Meu Deus! Que falta me faz... Tudo parece começar a diminuir. Nada é tão importante, nem tão fantástico assim... São apenas pedaços, que devagar vai desaparecendo. Como um quebra-cabeças, ele continua sendo um quebra-cabeças sem um pedaço. Se nos concentrarmos lembramos do pedaço que falta, imaginamos ele na figura e pronto! E também uma peça apenas do quebra cabeça não faz tanta diferença, não é mesmo? A imagem continua sendo a mesma, mas incompleta...falta um pedaço, mas dessa vez não está debaixo do tapete ou no braço do sofá, não se pode substituir, é impossível. Dessa vez, se foi pra sempre, a imagem nunca mais será a mesma. Perdi um pedaço fundamental da minha vida. Ainda caminho, durmo, como, sorrio, choro, transo, bebo, fumo, vivo enfim! Ainda sou àquela imagem. É tudo tão perto que os pedaços próximos a serem arrancados, vão se tornando peças possíveis a desaparecer, afinal é assim mesmo, não foi diferente com ninguém. “Quando eu o vi morto pela primeira vez, fazia menos de 1 hora que ele havia partido, ainda tinha uma certa temperatura “natural”, estava de barriga pra cima, deitado como se dormisse... fui a primeira a vê-lo e me deparei com seus olhos abertos ainda, àqueles olhos que depois de um certo tempo eu já não distinguia a sua cor, mas eram lindos e sedutores. Pus minhas mãos sobre sua testa e deslizei suavemente sobre suas pálpebras já um pouco rígidas, voltei a repetir o movimento e as fechei. Eu vi a cor dos olhos dele pela última vez e assim mesmo não consegui adivinhar a sua cor.”

Amelie

... e se me pego assim, ao olhar a chuva por um pedaço de céu que minha casa permite... insisto na esperança de confortar minha ânsia instalada na garganta. Tem um gosto de cigarro que não cessa...uma mão diferente da outra. Um pulo estranho no peito que se confunde com esses pingos ensurdecedores do temporal, que não vai embora... olho ao redor: uma casa vazia, uma cama vazia, uma geladeira vazia, meu copo vazio, me bolso vazio. Tudo tão esgotado na minha cabeça, tudo não cheio... imagino minha cabeça crescendo e crescendo...tomando conta da casa, do copo, da geladeira. Penso nas minhas pernas que doem e eu não sei porque. Volto pra minha cabeça e imagino minhas veias salientes na testa que também cresce... Um barulho no telhado: vai, salta da cama, abre a janela. Um pedaço de escombro. Mais um dentre vários que vejo pela janela, misturado a ferros e cimento. Eles estão me enterrando!? Passa pela minha grande cabeça a interrogação. Lembro de algum lugar homens com ferramentas pesadas nas mãos, cavando, empurrando, subindo, cuspindo, gritando. Barulho de rádio à pilha...são eles! Eles voltaram. Posso sair pela porta, penso. A porta dá para o corredor, o corredor dá para uma outra porta, que dá para rua. Pronto, já, já estarei na rua. Vou até a porta me certificar. A porta está trancada com a chave, mas a chave não está na porta e há essas horas eu não vou conseguir encontrar a chave e provavelmente eu a tenha perdido ou deixado em algum lugar que jamais eu acharei...ou, até a próxima mudança... mas até lá, eles já vão ter conseguido me enterrar. Estão enterrando a minha casa! Alguém? Estão me enterrando viva, eu e minha cabeçona. Ninguém vai vir aqui? Amelie! Começo a sentir minha nuca sendo puxada para cima, minha cabeça dói junto com minhas pernas, o frio me treme, minhas mãos continuam diferentes, meu pescoço sua e arrepia junto com minhas orelhas, queixo...acho que minha cabeça está crescendo, agora minhas costas estremecem e meus olhos choram. Sinto saudade de Amelie. Ela foi esperta, saiu antes de ser enterrada. Acho que descobriu que seria impossível sair daqui. Fugiu da casa, da geladeira, do bolso...eu nem percebi. Deixou seus pêlos e sua cama, também vazia. Começo a pensar o quanto ela ficou sozinha dentro da casa, pensando no seu tamanho, imagino quão vazia se parecia a casa aos seus pequenos lindo olhinhos. Não me sinto bem. Amelie não gostava de mim.. na verdade ela tentou. Tentou tanto que eu a amasse... desculpa, as vezes eu não sei amar como se deve. Eu poderia ter sido mais legal... Eu poderia não ter deixado a casa tão vazia. Amelie! Tenho uma pacote de bolachas água e sal pela metade, estou com sorte. Mais um barulho... mais um escombro. Confiro as horas e me inquieto. O que fazer?Continuo esperando... Amelie.