sexta-feira, 23 de julho de 2010

Joana - Bilhete


eu lembro que você falou que tinha prazer de ser tocada na costela, de ladinho.
costelas...
 Aí eu lembro de uma fresta de pele entre a calça e a blusa e eu lembro de pensar
que você tinha razão de gostar...
porque era mesmo um milagre.

O corpo leve
 só.
Vontade de ficar um dia inteiro em silêncio com você
e outros dias barulhentos.

Joana.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

ELES

Sely,


Joana,


Joe,


Chico e

Lufre.

Carta de Sely - desaparecida


E eu só tinha vontade de chorar.
Desesperadamente... Milhões de lágrimas penduradas no pijama de anteontem, no café repassado, e todo o vinil empoeirado pulando da estante pra compartilhar de todo aquele sofrimento Ofélico e premeditado. Tem convite para todos. Todos os boêmios que aparecessem por acaso pra me lembrar você seriam bem vindos e bem recompensados por suas canções espalhadas pelo corpo-cotovelo.
Tudo ainda sendo muito bem sentido... E célula por célula reconhecendo o teu corpo que se afasta e some na minha memória. Meu corpo sentindo-se doente e abandonado ainda tenta se mover.
Secretamente estou a sofrer.
Dói o peito e abafa a alma que retalhada sangra em cada respiração.Me sinto estranha.To assustada. Me baguncei, perdi o tom.

"Ela veio me buscar pelos pés. Bruxa desgraçada de tanta graça...
Multidões debruçadas em meus ombros e o corpo todo pedindo pra que você venha me salvar.
Mas você não vem, não é mesmo?
Você não vai aparecer por aqui com uma espada em punho pra me buscar, vai?
Tudo bem. Tu me amas, eu te amo. Nós nos amamos e Adeus.
...Dançaremos num futuro e riremos das nossas cartas já velhas e debruçadas em uma taberna, lá por 1922 nos encontraremos e pediremos da mesma bebida. Você lembrará da abertura dos meus dentes e eu tentarei enxergar entre a fumaça dos cigarros do pessoal, o desenho perfeito da tua boca. E quando percebermos que estamos sozinhos juraremos amor um  ao outro, trocaremos um anel ou um beijo, ou quem sabe uma noite. Nos despediremos em prantos ou não e esperaremos pela simpatia do futuro...


Eu entendo. Você acha que não temos tempo.
É uma pena...
 Você tem razão.
Não temos  mesmo.

Depois disso eu respondi. Mas ela não respondeu nunca mais. Se alguém souber de SELY, por favor entre em contato.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

QUIETUDE


Nunca mais

Ela vinha pra mim como um apelo, mãos abertas, olhos quase secos, respiração ofegante e saliva molhada nos lábios. Ela não dizia nada, nem perguntava. Apenas dançava heroicamente no meio do salão vazio. Olhava para as paredes manchadas de vinho e cinzas de cigarro, fingindo cumprimentar pessoas, com gestos pequenos da própria cabeça. Eu esperava minha vodca evaporar para partir, afinal, as únicas coisas que ali estavam era serpentina pisoteada e copos de plástico inundando o suor do chão. Mas havia alguma coisa ali, naquele circulo de voltas que ela dava, com a música já baixinha dizendo: - Tá na hora pessoal, a festa já virou quarta feira de cinzas! Ela sorria e ao mesmo tempo balbuciava algo da música que não lembro agora. De beleza ela não era completa, era magra e sem gracinha como muitos dizem, o cabelo aquelas horas não dava pra julgar, pois, qualquer que tenha sido o seu penteado já havia sido tomado pela reveria de coisas que as pessoas costumam jogar do salão de cima. Apenas para sacanear quem no de baixo esta. Aí está a nossa política: enquanto os de cima jogam trapos, os de baixo servem-se deles como flores em suas cabeças. Mas voltando a bailarina feinha, ela não parecia se importar com sua aparência, ali estava apenas eu, alguns garçons de cara amarrada e ela com seus tantos pensamentos e alegrias que tentava informar às cadeiras debruçadas sobre as mesas. Depois de um certo tempo admirando a falta de beleza e a dúvida sem explicação da moça, resolvi olhar o relógio, já se passava muito da hora de dormir, e lembrando que já não seria feriado neste outro dia presente, preocupei-me com o meu dia de amanhã e nisso, preocupei-me com dia de amanhã dela. Pus-me a pensar, será que ela trabalha? Estuda, quem sabe? Filhos? Marido? Não, marido não. Nenhum marido a deixaria dançar até aquela hora sozinha e desvairada no meio do salão. Não que ela parecera ser vulgar ou que tentasse algum tipo de sedução, como eu já havia dito, não há nada de muito interessante que desperte algum desejo. Eu continuava, numa fuga de perguntas para não sair de lá. Eu não tinha sono e talvez tenha sido por isso que me encorajei a ficar tanto, sentado a olhar o que me confundia. Pensei em chamá-la para conversar, falar com alguém, afinal entre mortos e feridos sobraram apenas ela e eu. Mas, poucos dias atrás uma amiga próxima me disse que tenho cara de tarado e que sempre que chego para conversar com uma moça, parece que quero comê-la. Tive medo de afugentar a moça e continuei lá sentado, com as nádegas dormentes e as costas doloridas. Me revirei na cadeira, e resolvi pedir mais uma dose de vodca, mas o bar já havia fechado e os garçons deram indiretas para que eu me retirasse. Então disse que iria acabar meu copo e seguir meu rumo. Agora estava eu, ela, os chatos e a vodca tomando conta do meu tempo de festa como uma mãe. Ali estava eu: filho de uma vodca. Ficava fingindo beber, molhava os lábios e gastava minha saliva neles. E ela? Não bebe? Como pode dançar tanto sem parar e não tomar nem água? Quando menos esperei, a música parou. Todos ficamos apreensivos: eu, garçons, as cadeiras, todos, naquele momento me senti como num jogo do Brasil esperando a cobrança do pênalti. Ali estavam todos a espera de qual seria a reação da menina bailante. Naquele momento todos éramos cúmplice de algum tipo de crime e nesse minuto viramos amigos sem saber. Quase que entranhados com suas mandingas na mão e esperando o momento de gritar gol,e nos abraçarmos felizes. Foi então que ela parou. Se dirigiu até uma cadeira, pegou um casaco, a bolsa e se foi. Sem dizer nada, nem bom dia ou boa noite, nem obrigada nada. Um silêncio tomou conta do salão e eu desesperado queria sair dali e correr atrás daquelazinha. Mas dizer o que? Porque parou de dançar? Porque dançou? Quem é você? O que? E não conseguia parar de pensar que tenho cara de tardo. E também, como já mencionei antes ela não tinha nada que me chamasse atenção. Ela apenas estava dançando em círculos, com seus cabelos repletos de flores, sorrindo para o nada, fingindo brincar com as paredes, dançava lindamente como um corpo nu no espaço. Era tão leve que parecia um anjo voando entre as mesas. Magrinha daquele jeito dava vontade de proteger. Era linda aquela dança e tão linda era ela que descobri que havia me apaixonado. Doidamente estava eu olhando as ruas e pensando:- onde está a minha doce bailarina? Nunca mais a vi.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Voltando?

Queres saber de mim? Me encontre com os mais sábios, os mais velhos.. Encontre-me onde eu tento me encontrar. Sirva-se deles como estou a me servir. Quietude. Vida longa aos donos das palavras certas! EVOÉ!