sábado, 10 de janeiro de 2009

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piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

Chorarei atrasada, desculpe-me. Ponha seus pés de molho, desembru-lhe seus cabelos e vá pra rua. É lá onde se leiloa corações. É, também se formos pontuais e dedicados, arrecadaremos acompanhamentos... Dizem que teve gente que conseguiu além dos braços e pernas quase uma cabeça inteira com olho e tudo. Levante-se e vá! Tenha os joelhos ralados, ponha-se disponível. Ame-me apenas. Não se preocupe com meus sonhos. Coube a mim ter mais algumas mãos pra contar nos dedos as malas que transaportei. As marcas do estrangulamento permanecem, sabia? Agora já sem desculpas, mexa-se e vá! O mar já se colocou de pé. As veias da cabeça já se salientaram azuis e a camiseta molha... É fácil desembrulhas as caixas, o difícil é carregá-las. Nós sabemos disso?

Essa mulher

Essa mulher morreu junto com a bailarina, junto com a menina e com os palhaços e os cabelos bagunçados e com a roupa descolada e com os vícios e os olhares. Ela morreu junto com as saias e com as rosas roubadas. Ela se foi sem ninguém, sem ouvir ou enxergar, Ficou presa dentro da caixinha das coisas menores. Ficou feito boneca de louça, guardada a sete chaves para o neto que não vai nascer. Ficou brincando na tua cabeça. desenrolando teus cachos, desvencilhando-se dos abraços a quebrar copos por aí. Ela saiu sem agasalhos, sem o molho de cadeados e a faca pra se defender. Ficou triste de repente, nem o mapa das cidades ela levou. Morreu sozinha. Nem Deus sabe onde. Não foi pro céu, nem pro inferno. Esqueceu a agenda e os compromissos. Levou um maço de cigarros e a touca que a vó lhe fez. Lembrou-se de proteger as orelhas. Sabe ela que nos dias frios as coisas mais acentuadas congelam mais rápido. Largou o texto no meio da peça, esqueceu de passar na lavanderia e se foi. Tem dias que sem querer eu procuro por ela. Nas ruas eu olho para os carros. Infeliz pensamento meu, pensar que ela poderia estar dirigindo. Eu já naõ lembro muito bem do seu rosto. Eu lembro do cheiro as vezes, e tenho uma vaga memória do som da sua rizada. Lembro que ela dormia de lado e sonhava muito. Hoje passo as tardes tentando lembrar do seu nome...

Silêncio, por favor! Apenas...

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

HOMENS



H1- Você precisa sangrar para saber que tem sangue, assim como, você também precisa amar para saber que aí dentro bate um coração. Antes disso é apenas o nada. O nada falando sobre o nada. Você já parou para pensar nisso?
H2- Isso o que?
H1- Isso. Você deveria pensar mais, me ajudar. Afinal, eu não sou tanta coisa assim.
H2- Do que você ta falando?
H1- Nada. É só a forma como você me vê. Eu sei, eu sou o seu super herói, seu ursinho pimpão, não é mesmo? Ta bom. Eu não sou. Eu fiquei muito tempo não querendo falar nisso porque eu tinha medo que me olhassem assim. Assim como você me olha: com raiva. Você quer comer alguma coisa?
H2- Não.
H1-Eu guardo salsichas, sabe? Eu tenho o costume de guardar salsichas. Eu nunca as como, eu nem gosto muito. Eu devo ter mais de 15 latas de salsichas ali no armário. Você quer ver?
H2- Não.
H1- São salsichas pré-históricas. Elas estão comigo desde que eu vim morar sozinho. Minha avó sempre me dava salsichas quando eu ia visitá-la, logo que saí de casa. Salsicha é comida fácil, dizia ela... Tem certeza de que você não quer nenhuma?
H2- Sim.
H1- Quer?
H2- Sim, quer dizer não. Eu disse que sim, que tenho certeza de que não quero. Qual o seu problema? Você poderia me dizer o que está acontecendo? Eu não estou entendendo...
H1- Por que você está com raiva de mim? Hei!!? Fala comigo! Você quer que eu segure da sua mão? Pssiu! Ta bom. Já sei! Eu vou fazer salsichas pra você!
A menina triste partiu. Foi catar pétalas deixadas pelos "outros" por aí. Ela gritou ao fechar a porta, mas era tão cedo que os estalos dos dedos não afastavam ninguém do silêncio. Ela disse que pintava triângulos pretos no chão da sala. Disse também que não entendia seus pais. Ela nem sequer chorava mais. BRINCAR?? Ela resoveu vestir a roupa da comunhão, resolveu manchar sua pequenina boca de batom. Eles riam quando viram a menina. Uma boneca riscada, um pedacinho de vidro preso às suas inconsciências bandidas. Ela abriu seus botôes da blusa e procurou seu coração. Não achou. Procurou em outras partes do corpo e nada. Achou apenas uma medalha de algum santo, meio suja e encardida. A menina cansou de recordar e cantou. A voz era seca, os olhos um tanto molhados. Pensou que dali poderia sair seu coração. Não. Ela se esforçou para molhar o lenço de um rapaz que a presenteou. Ficou úmido apens um pedaço. De repente sentiu uma coceira nos lábios... era seu coração que insistia em sair. Ela colocou-se de joelhos e sem esforço o viu batendo, sangrando e manchando as pedrinhas verdes da calçada vazia. Olhou parada por um tempo aquilo que se movia sem saber porquê... Teve medo que a mordesse. Ela nem gostou do que viu. Saiu correndo deixando-o lá. Voltou pra casa, deitou-se na cama e rezou para um anjo. Pediu que nunca mais visse "aquilo" denovo. No outro dia, quando acordou, sentiu um vazio no peito. Não entendeu, foi até a praça procurar o coração. Foi quando o viu pisoteado, amassado, sem bater. Achou bonito. Era vermelho e lisinho... Parou perto dele, abaixou-se e com o lenço limpou a sujeira deixada por ele. Percebeu que ele tinha pegadas. Marcas de vários tipos. Achou engraçado. Enxarcou o lenço com ele e o guardou no bolso. Se foi. Chegando em casa, era tanta a felicidade que tropeçando subiu as escadas em euforia. Parecia saber o que fazer. Era pura maquinação de um cérebro sem coração. De sentimento, só sabia que sentia um vazio e que parecia que nada acontecia por dentro. Sentou-se na cama, seus sapatos balançando no ar. Aquietou-se. Tirou do bolso o lenço que continha seu coração e o engoliu. 

ALADOS

 
Eles se foram. Um a um. Pegaram seus poucos trapos e se foram. Algumas despedidas, meia dúzia de abraços, uns beijos no canto do olho, um adeus sem graça e partiram. Fiquei só. Com meus seios, minhas coxas e meu ventre. A casa desmanchou-se. A porta se fecha sem olhar o antes. A tristeza sobrevoa alguns pedaços de terra e a lágrima finge o sorriso. É tranquilo, é vasto, vai durar. Hoje me atrapalho com os dedos e os papéis. Ontem dormi de meias. E amanhã... Amanha? Mais um dia de saudade. ________________________________ABRIRAM O CHIQUEIRO
Saí lentamente... Cuidei dos meus passos para não tropeçarem... Afundei as mangas em qualquer casaco, perdi o rumo. Fui pra rua...passei pela poça d'água satisfeita em molhar os pés. Acabei de vestir meus sapatos no meio-fio. Brinquei com uns 15,20 postes iluminados... Cantei a breguice naquele bar desconhecido... dormi com um homem moço. Acordei de fantasia... Corri atrás da menina loira e vestido negro. Ela tem olhos maus... Agora aguardo o sangue das pardes, finjo o absurdo no contra-baixo que não é meu. E me banho na banheira que não é minha. Abuso da lealdade de minhas plantas. Hoje perdi alguns vícios. Preciso maltratar alguém. Cansei da dúvida. Saio pra rua, vestida em meu sangue! _______________________________TARDE DE OFÉLIA
Justificar
Forçaria meus dentes ao rangir calado da noite que não pôde ser de núpcias, mas que com toda a falta de farsa e com toda a magia guardada debaixo do travesseiro se desfez. Por que? Porque precisa... Algo se move... Algo se acomoda e algo se desfaz... Ai de mim! Diziam-me as bruxas espancadas na rede da monotonia.. Gemiam quase que sexualmente ao lembrar de cada abraço perdido antes do anoitecer.... Sussurravam e diziam umas para as outras: "-Agora é noite, pode largar a respiração"... E era assim: o vento voltava a assoviar, as portas abriam fazendo seus barulhos suspeitos e bem decorados de frases sombrias...e os dentes...Ah! Os dentes com aquele rangido.... Fingia eu, novamente...eu fingia e fingia... Pedi perdão ao presépio e ninguém me respondeu... Resolvi calar... Deixei meus pecados por aí e continuei... Foi-se os dias e mais devagar as horas a marcar pedaços de tempo no sol do meio-dia que virava quase a tardinha do mate quente na boca....o gosto do não escovar os dentes e o apelo pela roupa suja no chão... Cansei antes de dormir pude ouvir mais uma vez o teu barulho...