sábado, 10 de janeiro de 2009

Essa mulher

Essa mulher morreu junto com a bailarina, junto com a menina e com os palhaços e os cabelos bagunçados e com a roupa descolada e com os vícios e os olhares. Ela morreu junto com as saias e com as rosas roubadas. Ela se foi sem ninguém, sem ouvir ou enxergar, Ficou presa dentro da caixinha das coisas menores. Ficou feito boneca de louça, guardada a sete chaves para o neto que não vai nascer. Ficou brincando na tua cabeça. desenrolando teus cachos, desvencilhando-se dos abraços a quebrar copos por aí. Ela saiu sem agasalhos, sem o molho de cadeados e a faca pra se defender. Ficou triste de repente, nem o mapa das cidades ela levou. Morreu sozinha. Nem Deus sabe onde. Não foi pro céu, nem pro inferno. Esqueceu a agenda e os compromissos. Levou um maço de cigarros e a touca que a vó lhe fez. Lembrou-se de proteger as orelhas. Sabe ela que nos dias frios as coisas mais acentuadas congelam mais rápido. Largou o texto no meio da peça, esqueceu de passar na lavanderia e se foi. Tem dias que sem querer eu procuro por ela. Nas ruas eu olho para os carros. Infeliz pensamento meu, pensar que ela poderia estar dirigindo. Eu já naõ lembro muito bem do seu rosto. Eu lembro do cheiro as vezes, e tenho uma vaga memória do som da sua rizada. Lembro que ela dormia de lado e sonhava muito. Hoje passo as tardes tentando lembrar do seu nome...

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