sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

A menina triste partiu. Foi catar pétalas deixadas pelos "outros" por aí. Ela gritou ao fechar a porta, mas era tão cedo que os estalos dos dedos não afastavam ninguém do silêncio. Ela disse que pintava triângulos pretos no chão da sala. Disse também que não entendia seus pais. Ela nem sequer chorava mais. BRINCAR?? Ela resoveu vestir a roupa da comunhão, resolveu manchar sua pequenina boca de batom. Eles riam quando viram a menina. Uma boneca riscada, um pedacinho de vidro preso às suas inconsciências bandidas. Ela abriu seus botôes da blusa e procurou seu coração. Não achou. Procurou em outras partes do corpo e nada. Achou apenas uma medalha de algum santo, meio suja e encardida. A menina cansou de recordar e cantou. A voz era seca, os olhos um tanto molhados. Pensou que dali poderia sair seu coração. Não. Ela se esforçou para molhar o lenço de um rapaz que a presenteou. Ficou úmido apens um pedaço. De repente sentiu uma coceira nos lábios... era seu coração que insistia em sair. Ela colocou-se de joelhos e sem esforço o viu batendo, sangrando e manchando as pedrinhas verdes da calçada vazia. Olhou parada por um tempo aquilo que se movia sem saber porquê... Teve medo que a mordesse. Ela nem gostou do que viu. Saiu correndo deixando-o lá. Voltou pra casa, deitou-se na cama e rezou para um anjo. Pediu que nunca mais visse "aquilo" denovo. No outro dia, quando acordou, sentiu um vazio no peito. Não entendeu, foi até a praça procurar o coração. Foi quando o viu pisoteado, amassado, sem bater. Achou bonito. Era vermelho e lisinho... Parou perto dele, abaixou-se e com o lenço limpou a sujeira deixada por ele. Percebeu que ele tinha pegadas. Marcas de vários tipos. Achou engraçado. Enxarcou o lenço com ele e o guardou no bolso. Se foi. Chegando em casa, era tanta a felicidade que tropeçando subiu as escadas em euforia. Parecia saber o que fazer. Era pura maquinação de um cérebro sem coração. De sentimento, só sabia que sentia um vazio e que parecia que nada acontecia por dentro. Sentou-se na cama, seus sapatos balançando no ar. Aquietou-se. Tirou do bolso o lenço que continha seu coração e o engoliu. 

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